segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Um pouco de mistureba generalizada

"O mal verdadeiro, o único mal, são as convenções e as ficções sociais, que se sobrepõe às realidades naturais."

Bonito né? Fernando Pessoa. Esse cara sim está entre os dez mais amados dos flooders. Sete entre dez textos que recebo por e-mail, em correntes e powerpoints, têm sua assinatura no final. Quem se importa se desses sete textos, quatro não são dele, dois foram tirados do contexto original e um até que está direito, mas as cores e frufrus dos ppts não permitem que você passe do terceiro slide aonde ele está retalhado?

Essa, pelo menos, posso garantir que é dele, estava em um livro - culpem a editora se for mentira - e me fez pensar. Bom para mim, que queimo calorias sem precisar ir à academia, ruim pra vocês que vão ler um texto chato de artista como consequência. Se você gosta de Fernando Pessoa, desista. A frase aí em cima foi uma mera desculpra pra eu escrever minhas papagaiadas.

Somos divididos entre uma herança genética instintiva e comportamento social condicionado. E mesmo aos que têm um desprendimento social, a pergunta: Não fossem as convenções a que estamos acostumados, como seríamos? Se não houvesse a ética, a moral que aprendemos, se não houvesse um superego de vigia como nosso grande irmão, o que faríamos e como seríamos, sem pensar nas conseqüências das nossas ações e levar em consideração apenas as nossas vontades e desejos? Louco é quem obedece o ID, não?

Pra dar nó na cabeça dos incautos, nossos desejos também são convenções sociais. Ou parte deles. Disse há um tempo que não fossem as convenções e a moral, o homem não faria parte do grupo de animais monogâmicos, prova disso é o número de relacionamentos fracassados devido a traições. Herança genética. E joguem pedras aqueles que nunca pensaram pelo menos um segundo quando souberam dos países onde é permitido um homem ter várias esposas.

Para o infinito e além, então: Por que sentimos ciúmes das nossas namoradas? Ciúmes está ligado ao sentimento de posse e medo de perda. Convenções sociais. Mas opa, animais sentem ciúmes também... ou não?

Voltando à frase inicial, sendo o bem e o mal, classificações criadas pelo homem, podemos definir algo como mal se eliminarmos as convenções? Então como as convenções podem ser o mal verdadeiro sendo que o mal é baseado numa convenção?

Eliminando tudo o que aprendemos e seguimos, realmente espero que a realidade natural do homem não seja um mico brigando por carniça e jogando um osso ao céu ao som de Strauss.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Vida Louca

Olá!
A minha estréia aqui no blog será com um quadrinho espanhol: Vida Louca, de Jaime Martín. Publicado em 2008 pela Conrad.
O quadrinho conta a história de um adolescente recém chegado a um bairro de periferia de Barcelona, em meados da década de 80, numa época de grande crise econômica.

Em suas páginas vai contando a saga de Vicen, a forma como ele se adapta ao bairro, os amigos que faz e o seu envolvimento gradativo com alcóol, drogas e punk rock.
Um dos méritos do artista é despertar a curiosidade de conhecer as bandas citadas durante a história. É uma trilha sonora desenhada, a música ajuda a captar o espírito do personagem.
Até tentei encontrar algumas músicas, mas aparentemente ele escolheu algumas músicas difíceis.

Outro elemento de chamar atenção é a forma de mostrar as evidentes injustiças sociais através de um jogo de imagens que ele faz entre as situações pelas quais Vicen passa e uma tv de fundo, mostrando alguma propaganda de produtos que nunca poderão fazer parte da vida de Vicen, devido a sua completa falta de perspectiva. A mídia lhe esfrega os produtos, mas a realidade não dá oportunidade de usufruir deles. O que leva o nosso personagem a tomar decisões que afetarão sua vida, mudando de uma forma não reversível.

Originalmente Vida Louca foi publicado como Sangre de Barrio, Sangre de Barrio III- Nunca nada.

Um pouco sobre o autor:
Jaime Martín nasceu em 1966. dedica-se profissionalmente aos quadrinhos e à ilustraçao desde 1985.
Em 1987 começou a colaborar de forma regular com a revista El Víbora, com conteúdo de crítica social também.
Em 1990 recebeu premio de autor revelação no VIII salao internacional de quadrinhos de barcelona com a obra "Sangre de barrio".
Vale a pena visitar o site e conhecer mais alguns de seus trabalhos.

E esta é uma lista bem mais ou menos das músicas que aparecem no livro.
Rock n'roll mama - burning madrid
hey nena- burning madrid
puede que - rosendo
cuidado con el perro- barricada
no sé qué me pasa - ramoncin
sal de naja - ramoncin
mañana será igual - barricada
golpéales - burning madrid
el abuelo- juanito piquete y los mataesquiroles
la pipa - la polla records
mentiras - el hombre del sako
de rodillas- el hombre del sako
carne pa la picadora - la polla records

Bom... Acho que é isso!
Até a próxima!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O Arqueiro

Quando o pequeno vilarejo de Hookton é atacado por franceses e uma relíquia da igreja é roubada, Thomas, um jovem arqueiro se vê no dever de traze-la de volta e acaba integrando o exército do rei Eduardo, no que era o início da guerra dos Cem Anos, entre Inglaterra e França.

O Arqueiro é o primeiro volume da trilogia do Graal, de Bernard Cornwell. O autor das crônicas de Artur nos leva para o século XIV e, para quem leu a saga de Artur, pode esperar algumas diferenças e algumas semalhanças. As magias, feitiços e superstições bastante presentes na bretanha de Artur já não são vistas nessa história, mas os leitores podem esperar o mesmo clima empolgante e descrições perfeitas das batalhas e cenas da época.

E para quem acha que os combates seriam maçantes por se tratar de arqueiros, engana-se. O leitor entra nas batalhas. Cornwell mostra uma guerra sem honra ou glória. As batalhas são sujas e sangrentas e o perdedor frequentemente vê sua cidade arrasada, saqueada e suas mulheres tomadas. Tudo descrito de uma maneira que é possível sentir o cheiro da lama do terreno e da fumaça das casas incendiadas ao redor.

O livro inteiro é escrito em cima de fatos históricos, sendo apenas alguns trechos romantizados, então para quem gosta de história também é uma ótima maneira de descobrir como e porque o exército inglês consagrou-se como o mais eficiente e mortal da história desse período graças à sua arqueria.

Ainda não li
O Andarilho e O Herege, volumes 2 e 3 da trilogia, respectivamente. Não gosto de me adiantar, mas tenho a impressão que assim que colocar as mãos neles, terei uma crítica - creio - excelente.

O Arqueiro é publicado pela Editora Record.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Os Leões de Bagdá

Leões de Bagdá é uma alegoria. Um belo exemplo de como escrever uma história sobre a guerra sem mostrar a guerra propriamente dita. Seres humanos aparecem em uns poucos quadros, os personagens são leões. Quatro felinos que se vêem livres do zoológico onde estavam, no Iraque, após este ter sido destruído em um dos bombardeios americanos.

Sem saber onde estão e como arranjar comida nesse novo ambiente hostil, a história mescla muito bem elementos da guerra e suas conseqüências com o passado dos personagens e seus dramas, frustrações e ambições. Soldados, ao lembrarem de suas casas e famílias, dão lugar aos quatro animais que têm suas memórias, boas ou ruins, do tempo que eram livres.

Os leões antropomórficos são retratados não como seres instintivos, mas com uma linha de raciocínio e estratégia bastante lógicas para conseguir alimento de modo que é possível até se colocar no lugar desses animais selvagens.

Vale a pena conferir também, para quem se interessar, o hotsite criado pela própria editora Panini para a Graphic Novel. O endereço é http://web.hotsitepanini.com.br/leoesdebagda/

Leões de Bagdá é escrito por Brian K. Vaughn com arte de Niko Henrichon. Foi lançada no Brasil pela Panini Comics em Julho de 2008 a R$ 19,90.