quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Nascidos em Bordéis


E ainda dizem que um pouco de boa vontade e determinação não adianta.

A fotógrafa americana Zana Briski viajou para a Índia, inicialmente, para fotografar a vida das mulheres que vivem no distrito da Luz Vermelha, em Calcutá, conhecida pelo grande número de bordéis.

Sua surpresa foi a de, uma vez naquele lugar, criar laços de amizade com as crianças, filhas das mulheres que trabalham e moram nos bordéis e o foco de seu trabalho tomou outro rumo. Não por motivos profissionais, o documentário mostra claramente que as motivações da fotógrafa Zana não são apenas terminar seu filme e voltar para sua casa quentinha e confortável nos States, mas de mostrar, através da fotografia, uma nova realidade para essas crianças que viveram - e provavelmente continuariam vivendo - suas vidas inteiras naquele gueto, sem muita esperaça de um futuro diferente.

Às crianças do Distrito da Luz Vemelha foram dadas câmeras com as quais elas poderiam fotografar o que bem entenderem. E durante o tempo que Zana permaneceu naquele lugar, os ensinou os princípios da fotografia. Coisas básicas como enquadramento, situação, planos... que pode não parecer, mas é capaz de mudar o olhar de uma pessoa em vários sentidos.

É incrível ver as histórias por trás de cada fotografia, cada enquadramento e clique das crianças. E quem diz que a National Geographic tem os melhores fotógrafos do mundo, deveria olhar o site http://kids-with-cameras.org e ver algumas maravilhas tiradas pelos fotógrafos mirins. Com uma exposição nos States e na Europa e um livro publicado com suas fotos, dá pra perceber que eles não são fracos. Não vou entrar na história de nenhuma das crianças em particular, vou deixar que assistam sintam-se ligados a essas crianças por vocês mesmo e acredite, não é difícil de acontecer.

A grande fascinação do filme não é apenas mostrar uma parte da Índia que sai do estereótipo Ganges, bolinha na testa e "não como vacas", mas entrar à fundo na vida das pessoas que acreditam que a vida é aquela e não há como mudá-la - sendo possível, inclusive, citar vários exemplos de histórias assim aqui no Brasil também - e mais, isso é feito através da fotografia. Para mim esse é o grande ponto da arte, qualquer forma de arte, abrir os olhos das pessoas para algo que não era visto.

Claro que a turma do mimimi também chiou e veio falar que o filme só mostra um lado ruim da Índia, que devia valorizar mais a cultura deles, yada-yada-yada... Mas não liguem pra esses caras, o filme é ótimo, tem em DVD e vale muito a pena. O melhor é que, com tanta coisa sobre a Índia aparecendo na televisão, aqui você não vai ver o Lima Duarte nem o Tony Ramos.

Quem quiser saber mais sobre o filme e os resultados de todo o trabalho da fotógrafa Zana Briski e do diretor Ross Kauffman pode entrar no site http://www.kids-with-cameras.org/bornintobrothels e conferir não só as fotos das crianças de Calcutá, mas também suas repercussões em vários cantos do mundo.

Nascidos em Bordéis (Born Into Brothels: Calcutta's Red Light Kids)
Direção de: Zana Briski e Ross Kauffman
Ano de lançamento: 2004

Vai uma palhinha das fotos aí.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Chibata! João Cândido e a Revolta que abalou o Brasil


Dia 22 de novembro de 1910, estoura uma revolta liderada por João Cândido. Os marinheiros brasileiros já não aguentavam o grude que lhes era dado como comida, o soldo irrisorio e os castigos corporais usados como forma de punição pelas infrações cometidas. Já havia vinte dois anos que a escravidão terminara e no entanto o que se notava é que a Marinha brasileira havia reservado aos marujos, negros na sua maioria, um tratamento muito semelhante ao dos escravos.
Viajando e conhecendo tripulantes de esquadras de outros países, os marujos brasileiros começaram a perceber que este tipo de tratamento não era usual. Inspirados no caso do Encouraçado Potemkin, resolvem articular uma revolta reivindicando justiça e liberdade.

"Pelo fim da chibata
 Por condiçoes decentes
 Por uma marinha justa
 Por nossa liberdade"

Alguns fatos históricos são pouco estudados. Este assunto, por exemplo, dificilmente é encontrado nos livros didáticos. E quando aparece, geralmente como citação, não nos dá muitos detalhes sobre o evento. João Cândido, o Almirante Negro, é um destes herois esquecidos de nossa historia. Olinto Gadelha e Hemetérito constroem juntos um trabalho muito valoroso não só pelo aspecto gráfico e narrativo, mas também no que diz respeito a referencia didática.

Particularmente, gosto muito das partes em que o Hemeterito sobrepõe a cena narrada a cena do narrador. Dando um ar de cena de cinema a certos momentos da historia.
O quadrinho conta também com a participação de outras pessoas que foram essenciais para que estes acontecimentos não fossem esquecidos. A pesquisa do jornalista Edmar Morel  e as matérias feitas na década de 30 pelo Barão de Itararé no Jornal do Povo são incluídos no roteiro e também ganham destaque.

Chibata! João Cândido e a Revolta que abalou o Brasil é um quadrinho que merece, e deve, ser lido. Não é apenas uma obra com temática histórica. É a nossa história.
Conhecer a história é importante quando se pretende construir um futuro melhor para todos. Termino então, com a frase do personagem João Cândido. "É preciso nunca esquecer."